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OLHAR DE XISTO

Um olhar terno mas atento e preocupado de um filho de Tabuaço sobre a vida nesta terra e de todos os que aqui vivem, de todos os presentes e os ausentes que, mesmo à distância, a amam.

terça-feira, junho 28, 2005

No tempo das Rogas... Posted by Hello

AS ROGAS

Uma das imagens que retive na infância e sempre me acompanhou ao longo dos tempos e em todos os espaços por onde deambulei, é a das rogas – rancho de gente suada e alegre a caminho das vindimas, da pesada safra do vinho. Esperava por elas na avenida, onde homens e mulheres que a compunham retemperavam forças e adquiriam os necessários apetrechos e ademanes, antes que se pusessem de novo em marcha pela estrada que os levava ao Espinho, para daí derivarem para uma das muitas quintas que rogavam gente serrana para a vindima e a pisa das uvas. E tudo isto a cantar, noite e dia, apesar das péssimas instalações e das preocupações e canseiras suplementares que os aguardavam. Mas em quinze dias, sempre amealhavam uns trocados que, depois, iam direitinhos para a mercearia, donde comiam fiado, quando não para a farmácia com cujas mesinhas íam entretendo a vida, tratando as maleitas. Depois, das traseiras de minha casa, na Rua dos Quintais, perseguia esses ranchos com o olhar, até à curva de Santo Aleixo, a partir da qual se tornavam definitivamente invisíveis. E ficava triste de os ver partir, sem mim, para o mundo desconhecido, para o mundo apetecido, para o mundo proibido, por isso ainda mais apetecido. O Douro, para mim, era o mundo a que pertencia, mas ao qual não tinha acesso. Para mais, O Douro, o rio Douro, cujos roncos eu ouvia do meu quarto nas noites terríficas de inverno, mas que a vista não alcançava nunca, era a estrada líquida que nos levava ânsias e desejos irremediavelmente para o mar. Ora, o mar significava o mundo por achar, o mundo a conquistar, a descobrir, e o Douro, para lá dos montes travessos que o tornam invisível da vila, o caminho a percorrer com denodo, que este mundo é dos valentes, e dos fracos não reza a história. E a nossa terra tinha filhos a mais para as possibilidades que podia oferecer, e eram bem poucas. Ama-se a nossa terra, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos diz. A nossa terra natal, o nosso berço, mais do que árvore é raiz. Daí que mesmo para aqueles, como eu, arrancados ao viveiro e que tiveram que se fazer árvore e dar frutos noutras paragens, sempre que podem e as circunstâncias lho permitem, regressam, visitam, ainda que esporadicamente, pois que as raízes, essas, independentemente da copa se erguer noutros jardins, restam sempre onde nasceram.


José Guilherme Macedo Fernandes
Xisto

Um micaxisto

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