o meu email: andremoa60@gmail.com

OLHAR DE XISTO

Um olhar terno mas atento e preocupado de um filho de Tabuaço sobre a vida nesta terra e de todos os que aqui vivem, de todos os presentes e os ausentes que, mesmo à distância, a amam.

domingo, julho 10, 2005

Olhar o rio e a serra Posted by Picasa

quinta-feira, julho 07, 2005

O CANTINHO DA SAUDADE

AQUELA SERRA!...

Nas faldas daquela serra
Que te viu e deu o ser
(onde feliz te achei)
Desconhecias a vida
Só a querias viver

Passaste terras e mares
Alegrias e desgostos
(que feliz acompanhei)
Sempre naquela serra
Os olhos tiveste postos

Essa visão de menino
Alargou teus horizontes
(deslumbrou a minha vista)
Deu sentido à tua vida
Sustentou tuas pontes

De novo relembrada
A visão daquela serra
(que agora também amo)
Renovaste energias
Raízes fundas na terra

Que sempre ela permaneça
A acompanhar teus caminhos
(e eu a usufruir)
A frutificar em versos
Com rosas mas sem espinhos

Para o Gui


Aquela serra é a de Chavães. O Gui sou eu. A autora, a Maria Teresa, que conheceu, por mim, Tabuaço, a serra, o Douro, a região, todos estes meus berços, que já muito aprecia e que - como ela diz - agora também ama.
Acabo de descobrir estas quintilhas numa das minhas gavetas onde dormiam há três anos, perdidas entre miríades de papelinhos mais ou menos rabiscados, mais ou menos dobrados, mais ou menos esquecidos. E gostei de as reler. Sim, que eu tê-las-ei lido, quando me foram oferecidas, mas já se me tinham varrido da memória.
Gostei, fundamentalmente, por elas condensarem muito da minha vida. Desde logo, toda a minha infância e juventude vivida nestes cenários meio serranos, meio durienses; meio graníticos, meio xistosos; meio duros, meio lascados. E muitos dos meus anseios de adolescente, até que as circunstâncias me levaram a atravessar terras e mares, a passar alegrias e desgostos. Mas sempre com os olhos da alma postos naquela serra, tão temida e tão misteriosa, em que eu, ainda imberbe e medricas, tantas vezes me embrenhei, ora ao monte, ora às pinhas, ora à lenha, ora de saquitel às costas, sempre de credo na boca, com os cabelos em pé, por ouvir ou imaginar ouvir os uivos dos lobos no Alto da Escrita, a caminho de Carrazedo, em visita à minha avó materna.
Até ao Alto da Escrita, só a vista da vila, para onde ia olhando de soslaio enquanto dela me afastava, me dava algum folgo para prosseguir, serra acima. Passado o Alto da Escrita, até Vale de Figueira, pernas para que vos quero, calcanhares a baterem-me no rabo, que os lobos já resfolgavam nas canelas da minha imaginação. Ao passar por esta redentora aldeia é que os bofes, que já me saltavam da boca, voltavam ao seu lugar de origem. A partir daqui, por certo que os lobos não se atreveriam a perseguir-me mais, por isso, quando entrava em Carrazedo, levava já afivelado no rosto um ar de valentaço, de autêntico herói de palmo e meio. No regresso, as cenas repetiam-se, só que em sentido contrário. Por onde descera em alta velocidade, trepava agora penosamente. Por onde me guindara antes, saltitava que nem cabrito esfaimado, cada vez mais animado, à medida que a vila, a teta apetecida, se aproximava de mim.
Nem a Serra de Chavães já é o que para mim foi na infância. Não apenas porque eu mudei, mas também pelo muito que ela, a Serra, mudou. Hoje calva, a serra de Chavães constituía na altura um anfiteatro verde onde Tabuaço espraiava a vista e o nosso imaginário de criança se embrenhava num misto de receio e de fascínio. Temíamos os fragores da Serra, mas adorávamos nela as fragas e o acolhedor arvoredo. A serra era, então, o lençol nas cortes dos animais, o chamiço e o cando na lareira, o toco do Natal, os pinheiros e os ramalhos do S. João. A serra era a muralha que nos protegia, ao mesmo tempo que nos limitava os horizontes, que nos impedia de espraiar a visão rumo ao sul, que nos povoava inteiramente o espírito de sonhos e pesadelos no limitado terreiro desta minha sexagenária infância.

Xisto

Um micaxisto

Powered by Blogger

Subscrever
Mensagens [Atom]