
----------------(Pôr do sol no Alto Douro-Foto de Rui Carvalho )----------------------
******************À PROCURA DA IDENTIDADE PERDIDA********************
A intelectualidade cá do burgo, volta não volta, à falta talvez de outra esquina suficientemente aguçada para coçar o costado e adestrar o bestunto, lança-se à cata da nossa identidade, sem nunca a encontrar. Daí que repita e repita o mote até à exaustão. Pelo meio vai ficando a tresandar os ares um cheirinho a… A quê? Identidade? Não me parece.
A ânsia, o afã que a animam na busca, jogam desde logo em seu desfavor. Só se procura o que se não vê; só se anseia pelo que se não tem. De tanta vã porfia, bem poderia concluir-se que não existe identidade nacional. Ou então que a lídima identidade definidora de um povo não satisfaz as elites que teimam em não se rever nela.
Identidade porquê? E para quê?
Se não há duas pessoas iguais, se cada indivíduo é um todo uno e irrepetível, como encontrar uma ou duas ou três características definidoras de uma identidade colectiva?
Só o território comum nos indica como portugueses – e cada vez menos.
Reúno-me com um grupo de amigos, velhos conhecidos. Passadas umas horas de são convívio verifico que tudo ali nos uniu durante aquele tempo. Nada nos identificava antes nem passou a identificar-nos depois como um todo para lá da soma dos indivíduos. Tudo se consuma e resume no convívio que todos procuramos de quando em quando. Para matar saudades? Sem dúvida. Para revivermos tempos idos? Com certeza. Depois de uma boa sardinhada, de uns valentes copos, de uma bela cantoria, de umas tantas larachas para animar a malta, dá-se a debandada. Cada um regressa como chegou. Cada um retirou daquele encontro o que a sua idiossincrasia lhe ditou. Cada um manteve a sua identidade própria.
Poderíamos arvorar a língua como um elemento identitário – tipo a língua é a nossa pátria. Mas duvido. Se a língua pode ser considerada a nossa pátria, já não será, por certo, a nossa identidade. Um elemento comum, para mais abstracto e fruto de árdua aprendizagem não chega para forjar uma identidade quanto mais para constituir uma identidade colectiva.
Quando se afirma que o português é invejoso, ainda que pudéssemos generalizar este defeito, não estaremos com isso a retratar a nossa identidade. Quando muito a manifestar a falta dela. A inveja não será bem a prova de falta de identidade? A identidade distingue, eleva, transmite autoconfiança – nós somos assim, que bom! A inveja, pelo contrário, amarfanha, destrói, subalterniza, descaracteriza, conduz precisamente ao contrário de tudo quanto pudesse conferir-nos identidade. O mesmo se diga da nossa falta de confiança. Conheço portugueses de “gema” com autoconfiança a mais. O mesmo se diga da inércia. Que fazer dos enérgicos lusitanos e dos seguidores da ínclita geração? O mesmo se diga do queixume. Possibilitem uma choruda herança a um pobre queixoso e cedo verão em que se transforma o velho e revelho queixume: em fanfarronice intolerável.
Se com oito séculos de existência, Portugal não descobriu ainda a sua identidade, é porque não possuímos uma identidade nacional ou ela não se projecta convenientemente no passado.
Se calhar, a identidade nacional reside no futuro. Enfrentemos o futuro, como os nossos egrégios avós enfrentaram o desconhecido dos mares. Aí, no futuro, talvez um dia descubramos a nossa verdadeira identidade. Até lá, não nos ocupemos com isso, preocupemo-nos, sim, em criar um futuro risonho para todos. Aqui está um bom mote para a nossa identidade – a criação de um futuro risonho para todos.
SER PORTUGUÊS
Eu
Pescador
Me
Confesso
Por vocação
Marinheiro
Do mar
Possesso
Fui por maldição
Refém em Ceuta
Sucumbi em Fez
Não sei onde
Se forma
Ou finda
O meu país
Sou português
Corpo estendido
No mar profundo
Alma derramada
Pelo mundo
(André Moa)
CIDADÃO DO MUNDO
Sou nem grego nem troiano
Nem covarde nem tirano
Nem celta nem lusitano
Nem português nem hispano
Nem mourisco nem romano
Nem hebreu nem ariano
Nem índio nem africano
Nem europeu nem mongol.
Sou um ser uma vontade
À procura de verdade
De justiça de igualdade
De amor de liberdade
De paz de felicidade
Para toda a humanidade
Una na diversidade
Como a Vida a Terra o Sol
Sou em tudo o que sonho e faço
Cidadão Universal
Nascido em Tabuaço
Alto-Douro Portugal
(André Moa)