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OLHAR DE XISTO

Um olhar terno mas atento e preocupado de um filho de Tabuaço sobre a vida nesta terra e de todos os que aqui vivem, de todos os presentes e os ausentes que, mesmo à distância, a amam.

segunda-feira, junho 30, 2008

Re-início de colaboração com a Dad

CATEDRAL DE PEDRA

Pi

Culo
De
Catedral
A pedra ora
Canta e chora

Dedos hirtos
Mãos ressequidas
Aos céus erguidas
Roga à nuvem que passa
Desabafos de água
Para que lhe nasçam
Húmidos veios
Abundantes seios

É da íntima robustez do fraguedo
Que a água brota ainda que a medo

Aparência ressequida
Embrião de vida
A pedra constrói
Nos mais altos montes
Castelos discretos
Vetustas catedrais
Sussurros de fontes
Lágrimas de sal
Átomos de quimera
Prenúncios de Primavera
(André Moa)


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quinta-feira, junho 26, 2008

O "Furacão" chegou à Madeira

O “FURACÃO” CHEGOU À MADEIRA

Que título bombástico! E aterrador! Um furacão na Madeira? Lá se vai o jardim! Como “no mundo não há igual”, se o furacão o devassa, teremos uma catástrofe, uma perda irreparável.
Leio o artigo e suspiro de alívio. Trata-se de um “furacão”. De um furacão entre aspas. Da Operação Furacão que, pela aragem e pelo andar da carruagem, parece irá terminar em leve brisa. É sempre a mesma parra. Escrevi parra com a – para não ferir susceptibilidades.”Muita parra, pouca uva”. Quando muito algum bago, a acreditar na parte final da notícia: “O procurador-geral da República já disse que espera ver concluída, até ao final do ano, pelo menos, a investigação do primeiro processo. Mas são poucos os que se arriscam a apontar, no calendário, a palavra «fim» para a maior investigação de crimes fiscais e económicos alguma vez feita em Portugal. E a demora só não é maior porque muitos dos cerca de 200 arguidos do processo – na sua maioria administradores de empresas – já optaram por devolver as quantias em dívida ao fisco (70 milhões de euros, no total) em troca de uma suspensão do processo.” (sic)
Leio e pasmo. Cá está uma engenhoca financeira a permitir que os administradores faltosos lavem a testada, se livrem de processos criminais, e assim, presumo eu, já que nada os impedirá, poderem continuar a desrespeitar as regras fiscais e económicas. Limpam com uma mão o que borraram
com a outra e a borrada continua. Ad aeternum.
Eu logo vi que nenhum furacão iria assolar a Madeira, a terra das suaves brisas, onde, isso sim, temo-lo visto à saciedade, o mais leve sopro, por força do incontido ciclone que vela por aquelas paragens, se transforma em grosso tornado em direcção ao continente. Por estas e por outras, em vez do adágio “muita parra, pouca uva”, permitam-me este desabafo: Porra para esta porra! Para este “Estado de Direito”, que se deixa “comprar” por “um prato de lentilhas”, permitindo que, por uns tustos, os depredadores lavem das garras o sangue das vítimas e continuem a depredar.
Isto poderá ser legal (pelos vistos é) mas fede que tresanda.

André Moa

domingo, junho 22, 2008

O Vindimeiro - (ilustração de Gustavo de Almeida)

São as gotas do suor que caem dos corpos dobrados que regam o ressequido xisto que sustenta a negra cepa que se multiplica em vides de que pendem as uvas que destilam o mosto que se transforma em vinho fino que é servido em delicados cálices que num ápice são emborcados em requintados salões, longe do altar sacrificial, com total olvido, se não mesmo desprezo, por parte de quem o sorve, da vítima imolada a quem todo o milagre se deve.
Que ao menos o poeta erga a palavra – a sua taça – em homenagem ao trabalhador duriense.

GOTA D’OURO

da
vide
a
dádiva
da
vida
pende
gota
a
gota
o
suor
no
xisto
cai
num
cálice
num
ápice
o
homem
em
mosto
se
esvai

davideadádivadavidapende
gotaagotaosuornoxistocai
numcálicenumápice
ohomememmosto
se

esvai
num

ápice
num

cálice
o homem

emsuorseesvai

segunda-feira, junho 16, 2008

----------------(Pôr do sol no Alto Douro-Foto de Rui Carvalho )----------------------
******************À PROCURA DA IDENTIDADE PERDIDA********************

A intelectualidade cá do burgo, volta não volta, à falta talvez de outra esquina suficientemente aguçada para coçar o costado e adestrar o bestunto, lança-se à cata da nossa identidade, sem nunca a encontrar. Daí que repita e repita o mote até à exaustão. Pelo meio vai ficando a tresandar os ares um cheirinho a… A quê? Identidade? Não me parece.
A ânsia, o afã que a animam na busca, jogam desde logo em seu desfavor. Só se procura o que se não vê; só se anseia pelo que se não tem. De tanta vã porfia, bem poderia concluir-se que não existe identidade nacional. Ou então que a lídima identidade definidora de um povo não satisfaz as elites que teimam em não se rever nela.
Identidade porquê? E para quê?
Se não há duas pessoas iguais, se cada indivíduo é um todo uno e irrepetível, como encontrar uma ou duas ou três características definidoras de uma identidade colectiva?
Só o território comum nos indica como portugueses – e cada vez menos.
Reúno-me com um grupo de amigos, velhos conhecidos. Passadas umas horas de são convívio verifico que tudo ali nos uniu durante aquele tempo. Nada nos identificava antes nem passou a identificar-nos depois como um todo para lá da soma dos indivíduos. Tudo se consuma e resume no convívio que todos procuramos de quando em quando. Para matar saudades? Sem dúvida. Para revivermos tempos idos? Com certeza. Depois de uma boa sardinhada, de uns valentes copos, de uma bela cantoria, de umas tantas larachas para animar a malta, dá-se a debandada. Cada um regressa como chegou. Cada um retirou daquele encontro o que a sua idiossincrasia lhe ditou. Cada um manteve a sua identidade própria.
Poderíamos arvorar a língua como um elemento identitário – tipo a língua é a nossa pátria. Mas duvido. Se a língua pode ser considerada a nossa pátria, já não será, por certo, a nossa identidade. Um elemento comum, para mais abstracto e fruto de árdua aprendizagem não chega para forjar uma identidade quanto mais para constituir uma identidade colectiva.
Quando se afirma que o português é invejoso, ainda que pudéssemos generalizar este defeito, não estaremos com isso a retratar a nossa identidade. Quando muito a manifestar a falta dela. A inveja não será bem a prova de falta de identidade? A identidade distingue, eleva, transmite autoconfiança – nós somos assim, que bom! A inveja, pelo contrário, amarfanha, destrói, subalterniza, descaracteriza, conduz precisamente ao contrário de tudo quanto pudesse conferir-nos identidade. O mesmo se diga da nossa falta de confiança. Conheço portugueses de “gema” com autoconfiança a mais. O mesmo se diga da inércia. Que fazer dos enérgicos lusitanos e dos seguidores da ínclita geração? O mesmo se diga do queixume. Possibilitem uma choruda herança a um pobre queixoso e cedo verão em que se transforma o velho e revelho queixume: em fanfarronice intolerável.
Se com oito séculos de existência, Portugal não descobriu ainda a sua identidade, é porque não possuímos uma identidade nacional ou ela não se projecta convenientemente no passado.
Se calhar, a identidade nacional reside no futuro. Enfrentemos o futuro, como os nossos egrégios avós enfrentaram o desconhecido dos mares. Aí, no futuro, talvez um dia descubramos a nossa verdadeira identidade. Até lá, não nos ocupemos com isso, preocupemo-nos, sim, em criar um futuro risonho para todos. Aqui está um bom mote para a nossa identidade – a criação de um futuro risonho para todos.

SER PORTUGUÊS

Eu
Pescador
Me
Confesso

Por vocação
Marinheiro
Do mar
Possesso

Fui por maldição
Refém em Ceuta

Sucumbi em Fez

Não sei onde
Se forma
Ou finda
O meu país

Sou português

Corpo estendido
No mar profundo
Alma derramada
Pelo mundo
(André Moa)

CIDADÃO DO MUNDO

Sou nem grego nem troiano
Nem covarde nem tirano
Nem celta nem lusitano
Nem português nem hispano
Nem mourisco nem romano
Nem hebreu nem ariano
Nem índio nem africano
Nem europeu nem mongol.

Sou um ser uma vontade
À procura de verdade
De justiça de igualdade
De amor de liberdade
De paz de felicidade
Para toda a humanidade
Una na diversidade
Como a Vida a Terra o Sol

Sou em tudo o que sonho e faço
Cidadão Universal
Nascido em Tabuaço
Alto-Douro Portugal

(André Moa)

sexta-feira, junho 13, 2008

( Pintura de Dad)
AS TÁGIDES


TÁGIDES NO RIO VARINAS EM TERRA SEREIAS NO MAR
NINFAS PERFUMADAS ROSAS DE ENCANTAR
NAS PRAIAS DOLENTES NAS ILHAS DO AMOR
ONDINAS FREMENTES SORRISO DOÇURA PAIXÃO E ARDOR

EMPRESTAM ÀS VELAS AS REDONDAS FORMAS
DOS SEUS VERDES ANOS
SÃO LUSAS SÃO BELAS AS SUAVES ONDAS
DOS CINCO OCEANOS

PORQUE LUSAS SÃO DO MUNDO SÃO ELAS
VÃO COM AS CARAVELAS ÀS SETE PARTIDAS
REGRESSAM EXAUSTAS NA QUILHA DAS NAUS
A CARPIR SAUDADES DOS MUNDOS ACHADOS
PARA MATAR SAUDADES DO SEU PÁTRIO TEJO
PARA LOGO LOGO NAVEGAR DE NOVO
NAS ASAS DO VENTO NAS VAGAS DO MAR
E ASSIM PARTILHAR O DESTINO DE UM POVO
QUE NASCEU PARA AMAR O PERTO E O LONGE
O IR E O FICAR
E FAZER DO MUNDO INTEIRO UMA ALDEIA
UMA IDEIA TRANQUILA
UM LAR

André Moa

quarta-feira, junho 11, 2008

Lusofonia

Pintura de Dad (tríptico)
ACORDO ORTOGRÁFICO

Vem aí o novo acordo ortográfico? Pelo menos volta a falar-se dele. Já muito se escreveu e disse sobre o assunto. Não vale a pena argumentar-se mais, pois que já tudo foi vertido em letra de forma, seja a favor seja contra. Eu sou a favor por todas as razões favoráveis. Não vejo nenhuma contra que me convença, até porque assentam todas num nacionalismo pacóvio, num chauvinismo insuportável. Será mero acaso que o cabecilha dos opositores mais ferrenhos a este acordo tenha, há meia dúzia de anos, defendido a restauração da pena de morte? Não sei, mas desconfio que não. A xenofobia, o chauvinismo, a arrogância, o racismo, a mania da superioridade, a petulância sempre arranjam mil e uma formas, algumas até bem sub-reptícias, para se manifestarem e fazerem estragos na paz, na concórdia, no acerto, em tudo quanto leve à compreensão, à união dos povos.
Há quem argumente que com o acordo ortográfico passaríamos todos a falar como os brasileiros. Isso não é verdade. A nova ortografia não implica a mudança de sotaque. Mas – pergunto-me – que mal viria ao mundo se isso viesse a acontecer? O modo de os brasileiros pronunciarem o português é muito mais agradável ao ouvido do que o fechamento colectivo que em Portugal, apesar dos vários sotaques, acabámos por dar à nossa língua.
O professor Lindley Sintra sustentava que os brasileiros falavam o português como era falado no tempo dos descobrimentos. A apagada e vil tristeza portuguesa é que deu em ir comendo as sílabas átonas e cerrando as vogais que ao tempo, e à boa maneira da língua mater – o latim – eram abertas. Experimente-se abrir as vogais e pronunciar todas as sílabas e descobrir-se-á, com agrado, que de imediato adquirimos aquele sotaque gostoso e musical dos lusófonos das terras de Vera Cruz.
O que deveria constituir orgulho patriótico e uma estratégia de futuro risonho (por vermos países unidos pela mesma língua, pela língua de Camões, neste mundo cão da globalização) não passa de repasto para alguns saciarem a sua saloiice, o seu patriotismo bacoco aqui transformado em ridícula demonstração de falta de visão cultural, económica e social.
E esquecem-se de que o português se foi enriquecendo, ao longo dos tempos, no caldeamento linguístico-cultural com os povos com quem convivemos e partilhámos a língua que hoje constitui património de todos os países, de todas as gentes que a falam. Cada qual à sua maneira, claro. Como convém a quem pugna pela igualdade de todos, com profundo respeito pela diferença de cada um.


LUSOFONIA

Língua lusa língua luz
Farol de mundos a haver
Língua mar língua mágoa e alegria
Língua afecto benquerença e saudade
Arco-íris de emoções
Estruturante afago mesa e berço
Sangue comum a pulsar em prosa e verso

Policromática cultura doce agreste
Com mimos de cidade e robustez campestre

Língua lusa língua mundo língua abraço
Língua de chegadas e partidas
De repousos e cansaços
De sonhadas noites esforçados dias
Caloroso encontro pranteado adeus

Cultura temperada pelo calor de muitos sóis
Suavidade prateada por mil luas
Baptismo de água e sangue e fogo e sal

Língua de múltiplas culturas
Exaltação atlântica fogo lusitano
Floração tropical requebro africano
Índico aroma asiático sabor
Índia pluma brasílico fulgor

Cultura de andanças e paragens
Gaivota esvoaçante vela e navio
Continente e conteúdo lágrima e riso

Língua-cultura do porvir
Corpo e alma deste universo sem fim
Onde todos somos onda de um só mar
Frutos do mesmo pomar
Flores plurais de um só jardim

Lusofonia – luz palavra e cor
Lusofonia – universal sinfonia de amor


André Moa

quinta-feira, junho 05, 2008

Lágrima de nuvem - Pintura de Dad

A cidade, este caos organizado, se chove um pouco mais, retoma a sua génese de caos sem organização nenhuma, mostrando então a sua verdadeira face: um pandemónio com gente condenada a nele viver mergulhada. Só o poeta, só o homem ou a mulher com capacidade de evasão pelo sonho conseguem sobreviver à tona do lamaçal citadino.


LÁGRIMA DE NUVEM

DE VEZ EM QUANDO A CHUVA
FATIGADA DE ABENÇOAR OS CAMPOS
DESCE À CIDADE PARA FUSTIGAR O CAOS.

UMA CIDADE HABITUADA
A SER CIMENTO E TRÁFEGO
PRESSA E ALVOOROÇO
FICA LOGO TRANSTORNADA
AO VER-SE TRANSFORMADA
EM PROMESSA DE ERVA TENRA

CAVALO ALADO DA MONTANHA AO PRADO
NA CIDADE A CHUVA
É RIO DESLOCADO DO SEU LEITO
OURO TRANSFORMADO EM LAMAÇAL
UM DEUS CONSPURCADO
BENÇÃO A ESGOTAR-SE NAS SARGETAS PÉROLA SUBMERSA NAS VALETAS
COMO LIXO ENSOPADO
NO SANGUE DERRAMADO DO ASFALTO

SÓ O OLHAR ATENTO DO POETA E DO PINTOR
DOS AMANTES DO ORVALHO E DA FLOR
VISLUMBRAM NOS CHARCOS DA CIDADE ARCO-IRIS VIRTUAIS
LAGOS ESPELHOS VITRAIS
LÁGRIMAS DE NUVEM
FRUTOS CAMPESTRES
MEMÓRIAS DE INFÂNCIA
SORRISOS SILVESTRES

André Moa

segunda-feira, junho 02, 2008

A PROPÓSITO DAS ELEIÇÕES NO PSD


Contrariamente ao que afirmam alguns comentaristas, não creio que a Manuela Ferreira Leite tenha convencido o eleitorado do seu partido. Apenas convenceu pouco mais do que um terço desse eleitorado e, se calhar, como outros também afirmam, por razões outras que não as restritas ao próprio partido. E se vier a convencer o eleitorado do país, muito mal andará a autocrítica e a capacidade de discernimento do eleitorado. E sem memória. E sem linha de rumo que o faça escolher sempre, se já não o melhor por não existir, ao menos o menos mau dos partidos que se lhe deparam nos péssimos caminhos que atravessamos. O problema está em que a direita, pela voz do PSD e do CDS há anos que vem reclamando menos, menos, cada vez menos Estado. Mas agora, aqui-del-rei, que o Estado não intervém no mercado dos combustíveis, dos alimentos, do pescado, dos juros, dos seguros, etc. Há que definir e escolher de uma vez por todas, lucidamente, o que é que se deseja. O mercado selvagem do capital, ou um Estado interventor, mesmo na economia, para se poder colocar esta ao serviço de todos os cidadãos? Eu não tenho dúvidas. O Estado é todo um povo organizado num determinado território independente. Pretendo, pois, que o Estado seja o dono e senhor dos bens essenciais – banca, seguros, energia, estradas, transportes, saúde, educação, meios de comunicação social, para que estes pilares sociais sejam colocados ao serviço de todos. Agora não se pode pretender sol na eira e chuva no nabal, isto é, economia de mercado sem rei nem roque (leia-se globalização liberal), onde impera o grande capital e dita as suas leis; e intervenção do Governo, que deveria ser o representante legítimo do Estado, mas que no fundo não é, nem controla os meios que lhe permitam intervir eficaz e eficientemente. Como diz o povo: ou sim, ou sopas.
Depois não digam que não vos avisei. E olhem que (vox populi) quem vos avisa, vosso amigo é.
Disse.

André Moa
Xisto

Um micaxisto

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